A Cidade Inventada (Portuguese Edition)

A Cidade Inventada (Portuguese Edition)

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Pages: 141

ISBN: B00JVTQ0A0

Format: PDF / Kindle (mobi) / ePub


"A cidade inventada", uma coletânea de contos, foi o primeiro livro de Cristovão Tezza. Escrito em 1975, em Portugal, foi publicado em 1980 pela CooEditora, de Curitiba.

O presente lançamento, exclusivo em formato digital, traz a edição original integral, acrescida de um prefácio do autor - "Um 'selfie' literário" -, comentando o que o livro significou em sua formação literária.

A edição inclui também um conto inédito, "A criança dos túmulos", que fazia parte do projeto original mas havia ficado fora da coletânea, e o conto "Os telhados de Coimbra", escrito na mesma época, e que foi o primeiro texto de Tezza publicado em livro (em 1978 ele participou da antologia "Assim escrevem os paranenses", pela Editora Alfa-Omega).

"(...) em 'A Cidade Inventada', temos um rodar de temas ligados a mulheres, prostitutas que levam homens desprovidos de vontade, ao casamento transgredido, às lembranças da infância, aos conflitos individuais, ao desentendimento entre amantes, e até ao problema da literatura e seu conceito. Os contos de Tezza dão a impressão de ensaios para projetos mais profundos, como um músico que toca aquelas peças de praxe, que apesar de simples, mostram a qualidade do instrumentista. Esperamos que ele chegue a nos dar um concerto."

Milton José de Almeida - Jornal Leia Livros (São Paulo, out/nov de 1980)

"Era um trabalho de aprendizagem, escrito com a determinação juvenil de aprimorar meu texto linha a linha, numa oficina obstinada. Eu sentia uma distância enorme entre o tamanho dos meus sonhos literários e seu resultado prático. É um abismo que todo escritor sentirá até sua última página – mas escrever estes contos representou minha primeira tentativa realmente séria de aproximar uma coisa da outra, na viagem de Sísifo de quem escreve."

Cristovão Tezza, no prefácio do e-book ("Um 'selfie' literário")

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexo à mostra, eu fecho os olhos num último medo e vergonha mas com a certeza de que em segundos estarei em paz. Prédios desmoronam, ouço a queda formidável, sinto a nuvem de pó erguendo-se em volta. Reabro os olhos: terror – meu homem não está aqui. Viro-me, furiosa, pronta a um salto. Atrás de mim, estou eu: os mesmos cabelos soltos, as mãos crispadas, a mesma túnica, exatamente os meus seios. É a ela – esta minha sombra – que meu homem possui sobre a rua. Sou eu e ele (sou eu!) mas assisto em

diz: – Não saia de mim. – Conte uma história. – Eu nasci num parque. Eu a aperto mais: – Não! Ela me alisa os cabelos e os seus olhos são como vidro. Repete: – Eu nasci num parque. Eu lhe aperto os seios e mordo Ana e paro sobre ela. – Não! Antes você teve uma família, uma casa, uma história. Lembre-se de cada coisa passada, você é a soma de tudo. Ela me beija e murmura: – Eu nasci num parque. Numa tarde de sol, com um vestido azul e perto de você. Então nós gememos e acabamos e antes

de baile para ver os próprios pés. Não se inclinava muito, temendo cair. Satisfeita consigo, ajeitou o colar e avançou pelo corredor. A cauda ia longe; a dona de casa pisou no vestido. A miss parou, fez cara de choro: – Ah… largue… assim eu caio! A outra fez um muxoxo de pouco caso mas tirou o pé; a miss seguiu adiante. Montada num banquinho, a modelo experimentava perucas. Decidiu-se por uma vermelha. No espelho da penteadeira fazia caretas, mostrava a língua com a peruca torta sobre a cabeça.

até nós, há ruído de águas batendo, a parede inclina-se. Olho para baixo, a luz não chega até lá. Ela diz: – É a alma do cão de guarda! Outro uivo, as águas batem nos porões, parecem romper os ferros, o navio se curva, vai ao fundo, agora tenho certeza. Minhas pernas tremem. A menina sorri, vejo seus dentes brilharem. Contorno o porão ansioso por alcançá-la, temendo cair. De novo no convés, ela desapareceu. Vejo o mar, a luz, ouço o vento. Do lado do castelo a voz me chama: – Hei! Acendo a

fazer o mesmo. A canoa pega impulso, eu me entusiasmo, gasto forças, compenetrado nas remadas, jogo água para dentro, espanto-me, enterro o braço na água, o remo não me obedece. Ela ri atrás de mim: – É fácil, logo aprendes! Tomado de uma grande alegria, remo sem parar; doem-me os braços, sinto frio nas mãos, o vento me fustiga, a proa dá pancadas no mar, em momentos remo o vazio, mas remo sempre, aprendendo em cada golpe, sentindo a força da água a cada impulso. Ela diz: – Devagar, menino.

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